“O sonho encheu a noite. Extravasou pro meu dia. Encheu minha vida e é dele que eu vou viver. Porque sonho não morre” (Adélia Prado)

8 de abr. de 2013

Popularidade: ajuda ou atrapalha?




Se a pessoa está sentada (quase deitada) num banco de praça lendo um livro sob a sobra refrescante de uma árvore frondosa, ouvindo o canto sinfônico dos pássaros, numa tarde vadia, qual a probabilidade de um estranho sentar-se ao lado e começar a tagarelar sem parar?... Se a pessoa for eu, a probabilidade é de 100%.

Aconteceu isso no sábado passado. Há quanto tempo não me dava esse luxo! Mas o dia estava lindo e, além do mais, eu tinha um livro (recomendado no Facebook) morando virgem na minha cabeceira por uns 3... talvez 40 meses.

Lá pela página 102, quando o romance (insoso) do improvável casal tipo Eduardo&Mônica  começava a dar os primeiros sinais de que ia esquentar, a babá com a criança no colo sentou-se ao meu lado sem pedir licença (para minhas pernas esticadas).

Sem muito rodeio, contou-me que era nova no pedaço, e que estava apenas cobrindo as férias da babá oficial. Depois, meteu o pau na patroa.  Emendou no falecido marido (santo homem!) que partiu antes da hora deixando-a com 4 filhos para criar. Detalhou miudinho cada filha e se ateve ainda mais no único filho (riqueza de menino!) que tinha entrado na faculdade. Quando ela pulou pra nora, fechei o livro.

O 'papo' se esticou até às tantas, e seria méeedio se não fosse um monólogo e eu a plateia. Pra sair dali só Gzuis na causa. Consegui uma brecha quando a criança mostrou sinais de número 2. 'É melhor trocá-la', disse já levantando do banco.

Mas não é só nessas ocasiões que sou abordada por estranhos querendo 'trocá uma ideia'. Antes fosse! É na fila do banco, do supermercado, na padaria, na rua... E se tiver um bêbado por perto, adivinha com quem ele vem desabafar?

Deve ser o meu sorriso colgate total whitening que é irresistível... (nada disso, a culpa é dos meus dentes que estão sempre um passo adiante de mim).

Tem ainda o fato de que todo mundo me conhece, coisa inexplicável isso.  Não sei como é possível se não conheço ninguém, nem mesmo guardo nomes e/ou fisionomias. Pior é quando sou reconhecida pelas coisas desastrosas que acontecem comigo: como quando fui desviar de um cachorro e fui parar quase dentro da sala da mulher. Essas coisas marcam a gente pra sempre. Nunca ninguém jamais se esqueceu de mim naquela rua!

Ser popular não é muito bom, não. No tempo de colégio todo mundo me conhecia, desde o diretor (principalmente ele) até o carinha da manutenção que aparecia 1 vez por ano. Tive uma professora que dizia que mesmo calada, eu atrapalhava a aula. Sempre tinha alguém do lado de fora tentando se comunicar comigo pelo vidro. Era na base da mímica. E como éramos craques nisso!

Certa vez, juntaram-se 2 classes para uma prova dela, depois do intervalo. Como sempre era a ultima a entrar na sala, faltou cadeira pra mim. Ela mandou que eu fosse buscar uma no andar de baixo. Na volta, encontrei uma coleguinha de outra sala com aquele 'miniiiiina, preciso te contar uma coisa!'. 2 dedinhos do segredo eu já coloquei a cadeira no chão e sentei. Lembrei da prova no finalzinho. Não foi o zero (escrito bem grande atravessado na prova vazia) que destruiu minha autoestima: foi o sorriso de satisfação daquela filha duma mãe santa...

O trágico é, que quando faço até reza pra materializar um estranho querendo puxar papo comigo, não aparece nenhum ser misericordioso. Como no início do ano passado quando estava no Shopping Alphaville saboreando um café no balcão do point mais point das celebrities (tava lá por acaso, viu gente, só tinha ido pagar uma conta atrasada). Foi no penúltimo gole que duas estranhas (nos 2 sentidos da palavra) se encostaram ao meu lado. Peguei a conversa pelo rabo, mas deu pra entender que elas falavam de um babado forte envolvendo um cantor sertanejo, como é mesmo o nome dele?... Aquele que grita até engrossar a veia do pescoço... Ah! lembrei! Zezédicamargoeluciano. Elas revelavam detalhes sórdidos, digo, íntimos da separação dele com a feiosa simpática Zilu di Camargo.

Como assim?... Vou ficar sabendo ""tudinho"" antes da mídia???

Eu já tinha terminado meu café, mas necessitava ficar por ali. Ir até o caixa pegar outra ficha poderia me custar não saber do chifre desentendimento do casal. Devia ter pedido um pão de queijo, 2 brioches e umas 7 empadinhas pra acompanhar. Levei 5 minutos pra ajeitar a colherinha no pires. Dobrei caprichosamente o saquinho do adoçante. Nada mais a fazer, olhei ao redor sofrivelmente na esperança de ser reconhecida por alguém. Nada.  Afinal, não sou tão popular quanto eu achava – pensei amargurada.

Daí, tive uma luz. Abri a bolsa, peguei o celular, levei ao ouvido e disse 'oi amada, tudo bem?' De vez em quando balbuciava um 'hum-hum'. Os ouvidos atentos (no buxixo). Foi então que as duas pegaram suas xícaras e foram sentar-se na mesinha beeem longe de mim. Justo na parte do flagra. A balconista me olhava com aquela cara de 'vai querer mais alguma coisa?'. Era hora de me despedir. 'Então tá, combinadíiiissimo querida! Bêeeeijo!' Guardei o celular e me fui.  

Dane-se esse fuxico, nem novidade é. Já cantei essa bola no final da década de 90 quando fomos (quase) vizinhos. Nem precisei de muita imaginação pra saber que a coitada não passava pela alta portaria do condomínio sem enroscar. Devia ter aberto um bolão.

Demorô pra cair a ficha da lerdazinha, cês não acham?

(não me processa que sou pobre).            

23 comentários:

  1. Comigo isso não acontece. Quando estou sozinho em um lugar público, fecho tanto a cara que qualquer um tem medo de se aproximar eu morder rsrsrsr
    Bjux

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. kkkkkkkkkkkk Essa é ótima Wanderley!!! Vou tentar seguir seu conselho. Porém, coisa difícil pra mim, visto que tenho o riso frouxo e miro logo nos detalhes engraçado dos outros kkkkkkkkkkk

      Bjão, adorei ver vc aqui!!!

      Excluir
  2. Nossa... que maravilha o anonimato! Não estou com essa sua bola toda, acho que sou discretinha! Apenas hoje, ao voltar pra casa, um mendigo com seu cachorro ao lado gritou pra mim e Pedro: Eu sou de Santa Catarina, mas amo vocês!!! rsrsrs
    As coisas comigo só acontecem com mendigos! Devo ter a cara da Madre Teresa de Calcutá...

    Adorei, também, sua história com a babá! Sabe o que acho, Su? Esses 300 dentes lindos que você mostra no seu sorriso é que deve ser o seu carma!!! rsrsrs É esse o preço que você paga! rsr

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tais e seus mendigos... kkkkk É, deve ter a cara da Madre Teresa! kkkkk
      Vocês sempre me fazendo rir... rsrsrs

      Excluir
  3. Ah... desculpe!!! Acho que não me despedi!!! rsrsrsrs
    Beijo grande, adorei essas histórias, mais um pouquinho do pouco que te conheço através de tantos emails! Bem que o que conheço já dá pano pra manga!

    Meu carinho... aqui!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O que quis dizer com 'Meu carinho(3 pontinhos)aqui'? E lá, não? kkkkkk

      Tais, vc que me conhece tão bem sabe que sou tímida, né? rsrs. Não mereço isso!! ‘Discretinha’ também sou, só não consigo passar desapercebida... Sei lá, deve ser carma, destino, praga, vudu kkkkkkkkk

      Não mostro meus 300 dentes, eles que andam naturalmente a mostra. Nem tiro foto de perfil, fica parecendo uma 'rampa' kkkkkkk

      Bjobjo, adorei! Brigadão.

      Excluir
    2. rsrsrs, os 3 pontinhos é meu carinho aí, no seu espaço, guria! No meu você tem cadeira cativa! Quanto ao 'discretinha', anonimato... é pura gozação, só nós duas sabemos dos rolos que aprontamos e não postamos nos blogs. Quer trocar seus dentes pelos meus? Topo!
      Ia esquecendo, a história do 'Zezédicamargoeluciano' e ainda aquele risco, foi demais!

      Beijão aí e daqui. (que coisa...)

      Excluir
    3. Sei lá, cê falou de carinho aqui, depois disse que é ‘discretinha’, fiquei pensando que talvez, quem sabe, vc seja bipolar kkkkkkkkkk

      Amiga!

      Contar nossos rolos no blog é pedir pra sermos expulsas da blogosfera kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

      Eu topo trocar de dentes, quanto vc volta? (os meus são maiores, salient...vistosos, atrai uma porção de gente bacana na rua, nem precisa esforço pra sorrir, eles sorriem sozinhos... kkkk)

      Quanta baboseira inútil!!! kkkkkkkkkkkk

      Excluir
  4. Ah, Sulei, vc é o máximo escrevendo, não consigo nem imaginar o que seria me materializar ao teu lado atendendo teu pedido....rsrsrrsrrs... o teu astral é incomum nos dias atuais, eu sou defensora do bom humor, e vc é contagiante - e boa estrategista, essa tua história do celular foi muuuiito boa!! ;)

    Ser popular nem sempre é bom, fato, mas manter essa tua característica tão gostosa de "conviver" é um pedido meu...considere atender, pleeeeease!!

    Bjos, não demore pra escrever outra delícia de texto!!!


    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tá atendida amiga, tá decretado!!A voz das amigas é a voz de Deus rsrs

      Denise, tenho uma leitora que não é blogueira, ela não comenta, me manda e-mails. Acabei de receber um dela dizendo que dou um nó na cabeça dela: publico poema, depois, texto ‘paulera’, na sequência, cômico, volto pro poema... rsrs. To começando a ficar preocupada, nunca tinha visto a coisa dessa maneira. Acho que perdi mesmo aquele parafuso kkkkkkk

      Beijo grande amiga, que bom que gosta das minhas bobagens!! Prazer quase sexual ter vc aqui!! rs
      Ah! Quando se materializar ao meu lado, por favor, não peça autógrafo kkkkkkkkk

      Excluir
  5. Sensacional! Com todo este bom humor, deve ser mesmo ótimo ficar horas conversando com você Sueli, que, além de tudo esbanja simpatia , carisma e sobre tudo um grande talento.
    Adorei a crônica e a estratégia do Celular...
    Um grande Abraço minha amiga.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ownnnn, amiga, sesacional é vc com todo esse carinho por mim!! Como diz meu netinho, Te Amo Mais Maior de Grande!!! rsrs.

      Tenho bom humor, sim, e poucas coisas me tiram do sério, graças a Deus!! Consigo rir até das minhas tragédias. Que não são poucas, viu...rs

      Beijo grande amiga, bom demaisssss ter vc aqui!!

      Excluir
  6. Sueli, sou uma boa amiga e vou ajudá-la a livrar-se da dúvida cruel sobre a popularidade, se ajuda ou atrapalha: AJUDA, SÓ AJUDA! No seu caso, ajuda a gente a morrer de rir enquanto lê seus relatos, portanto nem pense em sumir com esses 300 dentes lindos que estampam seu sorriso, continue exatamente assim para ter muuuita história a compartilhar com seus fãs! rsrsrs

    Amei a crônica, é de um humor fantástico, daqueles que só você possui, com marca registrada! Por sinal, comento aqui em meu nome e também como representante de minha amiga Gabriela, sua fã embora não comente em blog nenhum. Ela AMA tudo que você escreve, rola de rir com suas trapalhadas e te acha o máximo como escritora! E assino embaixo, Sueli Gallacci é tudo isso e mais um pouquinho ainda. Beijão!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Suzy, querida!

      Seus comentários são os melhores 'arriba autoestima' que eu tenho! Depois que te conheci queimei todos meus livros de autoajuda rsrs. Brigadão, amiga, vou continuar escrevendo pra receber seus comentários que não sou boba nem nada...

      Quanto ao meu ‘sorriso permanente’, vai continuar comigo (percebeu que tô evitando a palavra ‘dentuça’, né? rsrs). Optei por não mexer nessa característica com medo de perder minha identidade (apesar de ter um genro ortodentista-morram-de-inveja) rsrs.

      Um super, hiper, mega, máster beijo pra Gabriela!!! Um abraço de urso pra vc!!!

      Excluir
  7. Sueli! Olha, somos bem comuns nessa história de atrair desconhecidos para papear. Me lembro que eu sempre encontrava uma senhora ao voltar da escola, no ponto de ônibus da integração. E ela cuidava de uma idosa ali praqueles lados, e saia naquele horário. Certo dia resolveu puxar papo. Mas só ela falava. Só! E sabe do quê? Das doenças da tal senhora que ela cuidava. Foi o que escutei até eu mudar de ponto de integração para evitar o assunto! Eu também tentava ler. E sem sucesso...

    Ri bastante com a situação, que loucura! A atuação com o celular foi um máximo!

    Já usei para afastar pessoas que eu não queria cumprimentar, confesso.

    E esse "marcador" que você usa no post?
    Sueli, você é um barato!

    Você e minha mãe têm a mesma opinião sobre a Simpática Zilu.
    rsrs

    Excelente, excelente, excelente.

    Beijo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Luís Fellipe, que tal escrever uma crônica contando sua ‘aventura’ com a senhora das doenças? ... Aposto que ficará hilária rsrs. Se escrever, não se esqueça de me avisar, serei a primerona a ler! Não resisto a um texto engraçado, ainda mais escrito por alguém tão talentoso...

      Mas, hilário mesmo no meu texto foram minhas ‘licenças poéticas’ (leia: erros de 'portuguêis' rsrs)
      De tanto substituir o ‘ch’ por ‘x’ nos chats da vida, escrevi ’fixa’ ao invés de ‘ficha’ kkkkkkk. Só agora que eu vi!!... Bom ter amigos, né... eles fingem que não vê rsrs.

      Adoreeeeeeei tua presença aqui!!! Volte! Volte! Volte!

      Bjão pra vc!!!

      Excluir
    2. Ótima ideia! Vou colocar em prática e ainda dizer de onde partiu o incentivo! rsrs

      Olha, pra você ter uma noção, o erro passou despercebido! Acho que essa gramática tá embaralhando nossa mente! Mas se eu tivesse visto, não diria nada. Acho que a gramática depende da nossa adaptação e não nós nos adaptarmos sempre a ela. Do contrário ainda usaríamos "Vossa mercê"! hahaha

      Eu adoreeeeei vir aqui, e claro, voltarei! Voltarei! Voltarei!

      Beijo!

      Excluir
    3. Fê! (permita-me chama-lo assim. É assim que chamo meu neto, seu homônimo rsrs).

      Se pegar um dos meus erros avise-me, sim, plisssssssssss!!! Kkkkkkkk. Mas faça em off, no meu blog tem meu e-mail hahaha

      'Vossa Mercê' é sofrível, hem kkkkkkkk.Tem razão, essa 'gramática auternativa' embaralha e confunde, ainda mais alguém como eu que hospeda o tico e o teco kkkkkk

      Também demorei pra ir no CRONICALIZE, mas quando fui li de cabo a rabo!!! rsrs

      Bjobjobjo!!!

      Excluir
  8. A popularidade, tem lá os graus, me parece! Eu me considero na categoria "médio". Atraio muita gente,nas filas de banco, super mercado, transporte coletivo...Às vezes, o papo tem bom resultado, é agradável...mas, tem vez que é um desastre total, que dá até arrependimento de a gente ter dado "corda" a que fosse travado o diálogo que, por vezes, é mesmo monólogo.
    Mas quem vai adivinhar em que resultará?
    Adorei, a sua "crônica da vida diária", Sueli!

    Um bom final de semana (já pela metade)
    Beijos

    ResponderExcluir
  9. Achei fantástico o sentido de humor patente nestas crónicas.
    Adorei o blog e vou segui-lo.
    Saio daqui com um sorriso nos lábios.
    Bom domingo.
    Bjs
    Vivi
    http://esquecimedeviver.blogspot.pt/

    ResponderExcluir
  10. Vivi!

    Obrigada pela sua presença aqui!Fico feliz que tenha gostado.

    Linda semana, um mega beijo!

    ResponderExcluir
  11. Quanto ao pessoal que chega e conta tudo, sem ao menos perguntar meu nome... Bem vinda ao clube, Xará!....rs. É impressionante como isso acontece comigo, também. Há quem nasce para falar e há quem nasce para ouvir. Acho que pertenço ao segundo grupo. Às vezes, é bom, mas outras, naquelas quando o livro está na melhor parte, ai ai ai...rs. Abração, querida! (agora fiquei curiosa para saber o fim da história da Zilu...hehehe)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ahaaaaa, mas nem precisa me dizer isso!! Acha que não sei que vc é um para-raios de gente!!! Kkkkkkkk Com esse carisma, esse sorriso franco e aberto, vc queria atrair o quê?? Eucaliptos? Kkkkkkkkkkk Vc tem cara de confidente, até eu já andei lá inbox contando meus segredos... né, não? kkkkkkkkkkk

      Bjobjo!!!!

      Ps.: Quanto à simpática, te conto tudo, mas não é mais segredo já tá na mídia kkkkk

      Excluir

Sejam bem vindos! Sintam-se a vontade. Comentem, digam o que pensam. Podem rodar a baiana, só não cutuquem a onça com vara curta, ok?... rs