“O sonho encheu a noite. Extravasou pro meu dia. Encheu minha vida e é dele que eu vou viver. Porque sonho não morre” (Adélia Prado)

22 de ago. de 2012

Apenas mudando o passo da dança...


 Arte digital

Tem pessoas que adoram mudar os móveis de lugar. Outras, a decoração da casa, ou parte dela; anualmente!

Na semana passada uma amiga me ligou pedindo dicas de decoração. De novo??? Pensei.

Depois que desliguei o telefone, girei minha cadeira e percorri os olhos pela minha sala. Daqui do alto do mezanino onde fica o meu escritório-atelier, tenho uma visão ampla. O que vi foi a minha mobília morando nos mesmos lugares de sempre, desde que nos mudamos para essa casa. Até as cadeiras me pareceu que voltam sozinhas para os seus lugares.

Naquele momento constatei que mudanças me assustam um pouco. E que quando me bate aquela vontade de renovar, eu mudo a cor do esmalte da unha. Às vezes mudo a cor e o corte dos cabelos.

É engraçado isso porque no meu trabalho uso de toda minha ousadia.  Vivo em constante mudança: raramente pinto duas obras no mesmo estilo, sequentemente.

Minha grande descoberta foi que a arte é ilusão e vida real é outro departamento. Quando não gosto do que eu pinto, eu desfaço, apago, refaço, descarto... Isso não implica em consequências.

Bem, mas quando muda o compasso da música, temos que mudar o passo da dança.  

Na vida também é assim e ninguém pode fugir disso. Chega aquela fase que as coisas vão afunilando para uma mudança, que é inevitável, pois não somos mais capazes de sustentar o peso das escolhas que fizemos quando éramos mais jovens, e portanto, com toda a reserva de gás para queimar. Não se trata de arrependimentos pelas escolhas, e sim da sensação de já tê-las vivido plena e completamente.

Quando chega o momento que tudo grita por renovação, temos que ser capazes de ouvir, ou corremos o risco de perder a oportunidade de trocar o medo pela vida mais leve e prazerosa.

O medo bloqueia a nossa capacidade ponderativa e ainda sopra mentiras nos nossos ouvidos. Quando optamos pelo desconhecido é evidente que tudo pode não sair como o calculado, mas quem disse que viver é ciência exata?...  A vida é como uma roleta e jogamos os dadinhos todos os dias. Se ganha e se perde, mas se estamos vivos, significa que ainda estamos no lucro.

Tudo que temos que fazer é dar uma chance para o inesperado, e é bem provável que ele já seja nosso velho conhecido de sonhos adormecidos.

Na minha primeira gravidez, disse ao meu marido em tom de brincadeira que estava com desejo de comer pitangas azuis. Digo agora, 36 anos depois, que venha o novo!... E que ele tenha o sabor de pitangas vermelhas mesmo, pois hoje, mais sábia e com mais maturidade, me contento com menos.

7 comentários:

  1. Sueli,

    Gosto muito de vir aqui! Seu estilo de escrita me atrai, é uma leitura que flui prazerosa enquanto faz a gente ir pensando nos rumos da própria vida...

    Através de seu texto, olhei para tudo a minha volta e para dentro de mim mesma: há algo aqui que não tenha sofrido grandes mudanças nos últimos anos? Sinceramente, apenas o marido é o mesmo! rsrsrs

    Penso que é um traço de personalidade, o fato é que gosto da mudança. Mudo com certa frequência, desde a cor do esmalte e do cabelo até grandes mudanças, como de cidade e de profissão! Porém, tenho também meu ponto fixo: a família e as convicções religiosas. No restante, mudo a dança conforme o ritmo, sem problema algum.

    Amei seu final de texto: o novo com sabor de pitangas vermelhas! Sinto-me assim também: pronta para novos desafios, mas que tenham sabor de realidade e não simplesmente de sonho. Mudamos de fase, amiga! rsrsrs

    Beijo, com meu carinho.

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  2. Sueli, bom te ler. Mudanças sempre causam um friozinho na barriga e quando bem decididas e assimiladas dão novo sentido à vida e fazem tão bem!

    Beijos

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  3. Excelente a sua crônica, além de divertida. Parabéns!

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  4. Oi, Sueli!

    Gosto de mudar o que não compromete a minha estrutura interna, minha visão da vida, minha pessoa. Meus pensamentos são os mesmos há anos! Em nada mudaram. Educaria meus filhos hoje da mesma maneira que os eduquei quando crianças. Minha estrutura não mudou, diria que se adaptou, que aceitei o hoje com certas ressalvas... Infelizmente não fiquei tão modernosa e sim madura. Apenas tento me ajustar à essa época, mas conservando o que trago na minha bagagem.

    Minha época de morar em cidades lindas e românticas já passou. Agora é a calmaria. As inseguranças próprias da juventude já se solidificaram. Vou até onde meu bom senso permite, onde minha desconfiança me alerta.

    E como você bem falou, quando se é mais jovem, tenta-se; agora, solidifica-se as conquistas. Tudo está mais ou menos pronto, e dá pra acompanhar qualquer música... Tem os 'improvisos', amiga! E lido bem com eles, quando necessário.

    Show de texto, muito lúcido.
    Beijossss
    Tais

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  5. Oi, Sueli!
    Também não sou de mudanças, percebi isso com o tempo. Inclusive, ao fazer a descoberta, comecei a dizer-me árvore! Com raízes fortes, bem presas.
    De um ano para cá, talvez menos, já não sou tão firme na afirmativa: esta árvore aqui tem raízes mais rasas.
    Já penso com certa satisfação em sair deste canto, deste bairro, desta cidade. Talvez porque o tempo deles esteja esgotado. Ainda não sei.
    Estou me aprontando para as pitangas vermelhas!
    Bjsssssssssssss, quérida!

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  6. Creio que todas as vivências trazem experiência. O ser humano é assim. Muitas vezes devemos tolerar a fim que outros alcancem seu próprio apogeu, sua própria experiência...

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  7. Olá, Sueli!
    Mas que a mobília continue no seu devido lugar... Já pensou que certas coisas são feitas para permanecer? Outras são dinâmicas, nômades... Enfim, mudanças sim, quando forem mesmo necessárias.
    Grande abraço,
    Adh

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Sejam bem vindos! Sintam-se a vontade. Comentem, digam o que pensam. Podem rodar a baiana, só não cutuquem a onça com vara curta, ok?... rs